quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sierva Maria de Todos los Angeles

Recordando os livros de García Maquez que já havia lido, lembrei-me desse: Do Amor e de Outros Demônios. Por acaso, num sábado de tarde, na casa de minha avó, passei em revista pelos poucos livros de minha tia que havia na estante. Estava inquieta e queria algo para ler, mas não sabia o que escolher. Fui procurando com o dedo e com o coração agitado, mal sabia que estava a um passo de conhecer o grande amor da minha vida, um homem que mudou meu caminho, meu sentido, meu modo de ver o mundo!
Esse homem de mais de oitenta anos mostrou-me as aventuras da viúva Montiel, a Mamãe Grande, os Buendía, o Melquíadez, a cabeleira de cobre de 22 metros e 11 centímetros de Sierva Maria de Todo Los Angeles, Estevan que se afogou de tanta beleza e a pobre Cândida Erendira que sofrera tanto nas mãos de su abuela!
Escolhi, então, naquela tarde, um livro de capa violeta, como uma moça nua na capa e com grandes cabelos vermelhos. Ao ler a primeira linha: um cão com uma estrela na testa... Pensei, não te largarei mais!
Hoje sinto que o caminho ficou mais doce apesar das inúmeras amêndoas amargas que encontramos e no fim, tudo teria sido diferente se não tivesse me perdido no mar de palavras de Gabriel García Marquez.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Poema para a Tarde de Estudos – 3/2/11


O silêncio impera na casa.
Pareço que estou concretado entre os muros de rosas do jardim.
Nem o gato preto apareceu, nem o cachorro com suas investidas carentes
nem a senhora perfumada que desce as escadas às seis da manhã.
Sinto-me pendurado no varal das roupas
como se meus dentes estivessem misturados a números desordenados.
No corpo, apenas vento-solidão, sabor de banana com violão.
Apenas sinto...
Vago como uma bolsa de plástico flutuando.
Só, neste instante, com livros de português abertos em minha frente
e uma saudade otimista de estar entre veredas desconhecidas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Poema da Rua


Novamente a primavera
com suas azaléias floridas!
Daqui alguns dias teremos sorvetes de hortências
e Maurício Babilônia sofrerá um atentado colorindo
o céu de amarelo com as borboletas que escorrerão
por entre suas pernas.
Nada mais ingênuo e melancólico e solitário do que aquele
papel de margarida e flor de laranjeira que tinge de roxo
a pele do tempo catastrófico.
E tão feliz é aquela abelha que chora diante da flor assassinada.
A dama da noite violenta a onze hora por se achar flor de lótus perfumada
 e a flor de lótus, sem perfume, ainda espera por sua butterfly morta.
O jovem poeta sente o cheiro de uma calle nova
e seu espírito transborda por ruas bêbadas.
Sente no corpo
o sol cinza daquela terra
onde viu pela primeira vez nascer a flor do desassossego. 

13 de Setembro de 2010 - Mercado del Puerto - Montevideo - Uruguay

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Lamento do Mascarado


Eu não sei mais dançar
Minha máscara caiu, se partiu, no início do século XIX
Não sei mais brincar o carnaval que de tantos carnavais
Tornou-se velho e desusado
Não sei mais girar a porta-bandeira
E tão pouco rodopiar o mestre-sala
Não posso mais sair de rei momo
Não tenho mais confetes nem serpentinas
Não tenho tantos risos, nem tantas alegrias
E meus palhaços já se espatifaram no chão
Não sei mais andar na roda das rodas, nem usar fantasia de índio
Não me pinto e ultimamente ando vestido de sem graça
Sou aquele que nem o vento levanta com os suspiros de namorados furtivos
Sou o caminho para ver a barra do dia
Aquele que fez do trapo seu rosto diário e sua alegria
Sou a quarta-feira de cinza acinzentada
Sou a quarta-feira de cinzas cheia de inveja
Aquele em que o tempo apagou com borracha e carvão
Que vai enterrar os ossos num cortejo sem procissão
A despedida das águas de março
Para retornar na próxima estação.


17 Aurelianos

Pobre dos 17 Aurelianos!
Tiveram a triste sina de pertencerem à família dos Buendía!
Conheceram mal seu pai e ainda por cima nasceram com uma estrela na testa que foi possível a idenficação deles em qualquer lugar!
Para aqueles, que como eu, não nasceram com uma estrela na testa, se lascam nos meandros dessa deliciosa vida, este se torna um convite a loucura e a fantasia, de Gabo e tantos outros anônimos que se encontram por aí!
Hasta!