segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Soneto a Paulo Autran

Hoje a arte vestiu-se de negro...
Meus olhos sentiram a tua falta...
Você partiu tão docemente, nesse dia de chuva, névoa e risos
Você partiu e isso é insuportável!

Hoje, nesse exato momento, a arte cobriu-se de roxo
E esse poeta humilde e cafona chora por teatros que nunca viu
Chora por tua arte que partiu junto com tua alma
Chora por tua branca calma!

A arte hoje preferiu te dar o azul dos cantos celestes
Preferiu cobrir teu rosto de rosas e perfumes de amoras
Preferiu o teu silêncio e tua agonia

Hoje, bem longe dos teus palcos e dos teus braços
A arte entrou no mais absoluto véu de tua ausência
Doce Paulo! Porque escolhestes o ocaso?

Frio e Quente: O duplo pampeano


Sigo a linha fria do horizonte, me perco nas curvas do mar, percorro o norte buscando o sul. Sinto desejos impossíveis vindos de toda a parte desse território e me envolvo neles como se fosse uma criança comendo bala.
Sigo a linha fria da terra, me perdendo em verdes curvas, em veredas congeladas, em estáticas massas de ventos cristalizados, em arrepios de velhas senhoras “sudamericanas”, em vinhos densos, em brisas de santos cheios de promessas.
 Sigo a linha quente dos tamboris, dos velhos casarios em desalinhos temporais, de leves veranillos de agosto em tons de primavera. Sigo o caminho da rambla oriental, da cor do carnaval em fevereiro febrilmente desconectado. Sigo o punhal frio de um amor partido, de um amor sussurrado, de um inverno colorido-desbotado, das franjas da encosta do Prata, da doce tarde avermelhada da Colônia do Sacramento, do desatino ao ver a flor lilás surgindo sobre o telhado das casas. A rama do cabelo vermelho da moça descalça e desamparada. Assim surge, à beira do desapego, o sorriso manso e sereno, do jovem que avista do mar, aquela ciudad onde percebeu o tom de cada cor.

Poema de Concierto


Um riso e uma lágrima
Desejo-te uma valsa e uma milonga
A força do mar e la risa de un niño
Um abraço fraterno e um humor cerrado
Toda a alma e um coração que se liberta aos poucos en el Río de la Plata

Poema feito pós concierto de Daniel Drexler y Pablo Grinjot (07-08-2011) em Montevideo