domingo, 30 de março de 2014

Uma broma e os discos de Chico Buarque

Os discos
Do Chico Buarque
Que nunca foram tocados
Continuam fazendo pose
Na estante de plástico.
Essa chuva que dita
O feminino
- ponta verão/outonal.
Já não leio mais os poemas de Carlos
Mas não me sinto vazia –
nem iludida.
Minha pele está renovando
- percebi por que a cachorra
Escamou os restos com suas patas
Brincando de desfazer meu penteado
De vó prematura
- Úrsula tem mãos mais do que patas –
E afoga-me quando tem chuva.
Risquei do poema a passagem sobre os mamoeiros – macho e fêmea
Pensei em duas poetas da minha idade –
Continuo rangendo os dentes – raiva
Pavor, medo e liberdade.
Não sei onde coloquei o pen drive
E a sabiá me pergunta a mesma coisa
- são elas, as sabiás que cantam
- o mundo ainda dá créditos para ele!
E a estética quente do meu tambor
Não corresponde a estética do teu?
- e o amor que trazia no cesto
- Cheio de muambas?
E o que sou?
A chuva está passando
Não quero lavar as roupas!
- o que não sou?
- o que tem minha cara?
Tão escandalosa e bailante.
Não quero nada
- destes dias
- destas noites
Nem poemas
Balas
Caramelos.
É preciso terminar essa broma
Que escrevi
Mas não quero
Não quero!

No Carnaval

o carnaval
onde
posso
quero
desejo
espio
aqueço
no carnaval
se me brota uma fuça vermelha
se colocam asas
chove um lance
e se brinda
o lume da minúscula
purpurina
o confete
a serpentina
o sapato de palhaço
e a meia arrastão
- o mascarado
Black block relembrando o cordão
A penúltima fagulha
A barra alaranjada do dia
As cinzas do protesto
E o rasgo na fantasia
Se despedindo

Febrero

Febrero
Fervente
Sol dormente
caliente
esquina com Magallanes

Essência de baunilha

A essência de baunilha
Para colocar nos cabelos
Do cavalo azul
Tão azul
Feito os raios UVA desta estação
sóis que giram na cabeça
dois sóis que arrodeiam
O este selvagem.

Roja umidade solar

Roja umidade solar
- paralelo sul
Em delírios laguneros
Vertente
Violas
Bicicletas
Alados seres
Em prisma de horizonte.
Besos passageiros
Fatal clima
Cabelos em cobras
Com patas e pedaços de quero-quero.
Um banho para firmar.
Hibisco
E uma ponta estrelar
Piscando
Um lago mar mirim
Casa Hope

Laguna Merin – Verão 14

Quando se despede

Quando se despede
Em lágrimas dentes y sorriso
Pinta
Por certo
Um calafrio
Desdém de outros tempos.
Bons aires daqueles tempos.
Frieiras e solidão
[outros tempos]
Então
Deitados no chão
Estão
Memória, em caracóis sortidos,
E o reflexo da antiga cara.
O fantasma coloca capa e chapéu
É dada a hora
Está mais do que na hora
Em re passados minutos
1, 2, 3
Hecho!
E de pronto
Abriu-se a porta!

O passado esse feno

O passado
Esse feno
Faz soluçar
Aquela coisa toda
Aquela alma
O açúcar do tempo

Em noite de reis

Como matar cobra

Como matar cobra
Segundo minha avó
Matar cobra era com Pixinango
Irmão da finada Odócia.
- Pixinango quando via cobra
Atirava um pedaço de fumo
Na boca da criatura
E em dois toques
A cobra morria.

É, é verdade, dizia o teu avô!

A galinha

Aqui fora tem uma galinha
Que vive de papo aberto
Minha vó diz: ela dever ter
Algum problema cardíaco
Ou dos pulmões
Por que fome e sede

Ela não passa!

Fugir, disparar, correr e repetição

Fugir
Correr
Disparar
_______
Repetição
Fugir
Correr
Disparar
________
Repetição
Fugir
Correr
Disparar
_________
Repetição
Disparar
Disparar
Disparar
_______

Correr/fugir/nadar

A bandeira do teu vestido

Agita-se a bandeira do teu vestido
Anágua branca reflete
Desejo
Espasmo
Y uma felicidad semi-clandestina.
Tu boca en besos voluptuosos
Limonada em paliativos lábios
Cura y destorce
O cansaço e a falta.
Sonho não sonho
Um truque de oásis na tua rodilla.

A partir das músicas Sonho não Sonho de Chico Buarque
E Toito Cai lo traigo andão interpretada por Jorge Drexler


Em tempos alados

Em tempos alados
Debaixo do girassol vermelho
Uma canción envolveu
As diretrizes da vida
- escura y clara
Lapso de um
Artificial fogo.
Doze caminhos
[murmurados]
Ao redor de barras de espinhos
- em reluzido ferro
Brotou uma imensa engrenagem
Para sanar
El hermano corazón ferido.
Para Dóris Vargas

Em tempos de Leão

quinta-feira, 27 de março de 2014

Era Carnaval

Era carnaval ainda -
Derramei leite no teu fogão
- luz banhada em branco
pétalas de leite
e aquela segunda-feira de carnaval?
Desfez minha fantasia de Pierrot menino
um black bloc no último cordão.
A saia da porta-estandarte
de tanto redemoinho
fez derramar o leite no teu fogão.
Era carnaval ainda
alaranjado carnaval
leite

derramado
sujou o fogão
de crostas duras e fedidas
- mas era carnaval
e assim podia!

No Casaco de Eleonora

No casaco de Eleonora
Sinto o cheiro da Mirim
- de sal/açúcar
constelação lagunera
revolta em coração barqueiro
y água marinha.
Fervilha uma pétala de hibisco
na pele de las calles
- e que pedais se derramaram por ali?
[e eu] feito cavaleiro
- montado em andante companhia
desde o ar até o verso
braços que balançam ao baile
[cintilante guria]
- assustada [só]
soube dar o nascer do sol
- a lágrima
y su consistência lagunera