quarta-feira, 27 de junho de 2012

pobre América
ainda pari filhos
para tornarem-se
enlatados
dentro de um ônibus

Montevideo – ônibus desde a rua 8 de Outubro com Comércio hasta la Plaza de los Bomberos em direção a la Facultad de Humanidades (Udelar)
imóveis amores
imaginados
tartatumedeando
una canción
os guarda-chuvas
caminham bestializados
diante de tanta ruptura
sentada
enquanto a bomba do mate
murmura para o termo
palavras metálicas
um barulho de carros sobrevoando a capital
ouço falar de los temblores
parto-me, reparto-me em tantas
tantas, tantas feito os gomos de bergamota
transparentes los aires, transparentes*
pasillos, pasados, presentes
los aires azules del Buceo
los marones del auto torturador
mi gato despeaçado de cores
angustia imaginada de polvo
los polvos humanos que sobrevivem
a las sirenas desordenadas del tiempo.



Juliana Nunes
*Frase retirada do poema Mediodía de Idea Vilariño
Oficina de Poesia da Biblioteca Pública de Pelotas – 27/06/2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012


tinha uma boa frase ontem

ela bateu na janelinha da minha cuca

feito um passarinho

ajeitou as asinhas

e voou

sábado, 16 de junho de 2012

Mirando a lluvia a través de la ventana

pienso en uno tratado

una nova lengua

quando se me aparece pela frente

Sebastião, o gato negro!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

No revolto mar de tuas cruas pernas
nasceu a flor do beijo, entre laços de fita mimosa e desejo.
Na deliciosa curva dos seios puros, que escorriam leite, senti um odor de alho e jasmim.
Entre as cebolas das tuas bochechas, mordi com dentes caninos, o doce desespero de te ter sem te ver.
E na escuridão da tua pele, na qual sou menino em flor, senti o rosado torto de teus lábios a debochar da minha imaturidade.

quarta-feira, 13 de junho de 2012


Então ele dobrou
na rua da casa de Santiago Nasser
e olvidou o caminho
olvidou das tripas de Nasser
que cheirava a alfazema
na outra vereda
de sonhos e corpos nauseabundos
que tomavam banho de sol no porto
pensou ter avistado Meme
e seus filhos com rabo de porco
esquece da voz dos Aurelianos
e da cegueira fingida da Úrsula
não reconhecia mais Macondo
do alto dos grande ovos pré-históricos
Rebeca gritava
eu ainda lembro de José Arcadio Buendía.


Oficina de Poesia da Biblioteca Pelotense – 13/06/2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

um quarto modesto


quero um quarto modesto
que entre sol pela fresta esquerda
que tenha uma cômoda
para guardar minhas parcas e poucas roupas
uma mesinha para escrever minha dissertação de música
uma taça para os vinhos
em dias de porres espontâneos
um pequeno aparelho de rádio
e que ele toque de Rada a Daniel Drexler
uma caneca com as iniciais de Bóris, o gato
um lamento sutil que me anime nas noites de garoa
um quarto de corpo e alma
um quarto de corpo e alma
um quarto modesto de alma e corpo

Não sei por que

mas ela resiste em ser gatinha!

por mais psius que eu lhe dê

ela resiste solenimente

em ser gatinha

pero le digo

gatinha és e de três pelos

gordinha

e que aquece no inverno

por isso me pergunto:

por que resiste ela em ser gatinha?

domingo, 10 de junho de 2012

Noite Insone

pensei na separação
pensei que fosse o estampido do barco
afundando
e eu sem poder ir para Montevideo
Mas que nada!
Era o ladrar de um mosquito atrevido
que me tirava o sono
com investidas ferozes ao meu ouvido!

Feito às 4:30 da madrugada tendo que dar aula de História Medieval no outro dia!