segunda-feira, 19 de maio de 2014

O otorrino e o Poeta

O otorrino olhou o poeta 
e disse-lhe:
- Estás ficando surdo
a cara de espanto
da literária criatura
não amedrontou o médico
- En sério! No hay que hacer
em um ano estarás surdo!
y el pobre
saiu do consultório
se dando ares de Beethoven.

domingo, 11 de maio de 2014

El Bailarín


Eram os pés del bailarín
Solamente los pies
- corazón
       Y sapatilhas
de aço y vuelo
eram os seus olhos
a admirar sua dimensão
cuerpo
alma
y
baile
la risa larga
de quem quer com ódio
pero hace la tua
con sensillez
era la cara del bailarín que dançava
revirando os músculos
com a leveza de un pájaro
su cuerpo
-   armadura dourada de Jorge –
se contorcía
en dolor y êxtase
emoción de lábio en lábio
de la piel que absorbe
o som
o ar
y o silêncio
el bailarín llora con el poema
y se embriaga com la noche
arruma suas roupas e sueña
sueña por que baila
y bailando vai tecendo a vida
 - los colores –
de estações perdidas
- corsário del tiempo –
               Bailarín
seguro de sus alas
 até subir ao alto
além do além
da ponta de sus pies.

Para Lucas Madruga

20 Pesos

20 pesos
As injustiças sociais
- 20 pesos para acalmar la hambre -
O vendedor de colheres
Anunciou a miséria
Por que passa a América Latina
- 20 pesos para quem tem fome e não a pode acalmar –
Por cima dos edifícios
grandes outdoors
propagando os “messias” de ocasião
              - nenhum deles irá salvar os que pedem 20                     pesos para matar la hambre –
alguns reviraram as bolsas
 outros ignoraram
20 pesos
20 pesos
Hambre
Hambre 

Vila de São Luís

Entrou uma borboleta
no meu quarto
- daquelas da luz –
bem na hora em que
abri o dicionário
na letra ‘e’ e tomei o conceito de ética
           Paulo Freire
realmente foi um grande professor.
O ar quente está ligado
- a borboleta se grudou no guarda-roupas –
lembrei do dia
que caminhei com meu irmão
pela Vila de São Luís
os campos
as vacas
os porcos tomando banho de sol
as ovelhas de cara preta
y toda aquela atmosfera campesina
a bucólica borboleta romântica
volando nas patas do potro
que arrebenta a porteira
a porta da cabeça
dos sueños
a porta da cabeça
das antiguidades
das antigas idades platinas
nas planícies de flor miúda
brotando em caule de fértil pincel.
Caminamos por la Vila de São Luís
Por la ruína
na torreira do sol jaguarense
e no cheiro de mato fechado
e crianças se embalando nas árvores.
Os pequenos casebres
onde a internet não fez estrago
e homens fumam cigarro enrolado
y cuidando suas galinhas.
Nas pequenas pedras do caminho de São Luís
lembrei da infância
da garnisé preta
do tempo correndo vagarosamente
- assim como deseja Pepe –
das madeiras ainda por se tornar casa
e das casas novas esperando gente que quer tempo
o fluxo do campo
y a contemplação de por do sol diário
desde o balcão da sala
até a ponta dos dedos.


Na parte de trás da Cabeça

Dói a parte de trás da cabeça
aquele sentimento não se equivocou
tenho calçado nos pés
uma sandália havaianas
de 8 anos
logo as tiras arrebentarão.
A ponta dos dedos
começa a esfriar
- a noite apresenta uma infinitude de estrelas –
capaz que tenha sol amanhã
no terraço - às 2 da madrugada –
hay um rádio dos anos 50
uma garrafa d’água
minha sombra
e as inexoráveis folhas de outono
- a caneta bic entrou na história por acaso –
Um casal chegou por aqui
y la luz roja que ilumina meu caderno
provoca o maior barato
      psicodelia de uma temperatura felina
os sonhos pintam e bordam
durante a constatação montevideana
de querer-te não só
por querer-te
e odiar-te na medida do i mpossível
al borde de los terremotos
marinos
de plata
mar
y embarcaciones rotas

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Donde estoy

O meu vazio
- cavalo constante
  de arma y sueño –
nas ruas andando
y por las calles sendo aprendiz.
Y donde estoy?
Por aí
en las tormentas
y nos lugares sem resposta
y por aonde me fui?
[não sei]
Talvez Alfonsina
saiba melhor do que eu
talvez tenga me lambuzado
de incertezas florais
que las calles pintaram
em tela de outono.
El vacío
rósea sensação librinosa
daquelas estrelas caindo
do teatro
 - uma corte cheia de bobos –
No estoy
y estou
nas luzes marinhas
vindas da balconada do Prata
na cabeleira de quem não me conhece
e me quer
no som do navio perfurando
a calçada da Sarandí com Bacacay.
Estoy
      quiçá
no esquecimento
no sapato das senhoras que dançam tango
na sombra
no colar
nos sinos
y no silêncio
retirando o gibão
para melhor endireitar as asas
y volar
para donde sea sur
com revoadas de pôr-do-sol
por donde sea sal
sirenas
y revolteios de lluvia
sobre o sexto monte de mi cabeza.






A lua de Montevideo

A lua de Montevideo
está suspensa por bonecos
em efeito marionete
y há pedaços de cristalino
que enfeitiça a garganta
- gengibre na máquina del tiempo –
No há poeira
ni perros latindo
y parece que uma água borbulha
e alcança as canelas.
A lua de marionete
bebe do que bebe
os que por las calles estão
yo tomo o espectro das mãos
em constante procura.
 - desde a caneta até as patas elefantoides
A lua
o espelho
o amarelo queimado
a solidão
a ancha luz
de la luna motevideana
que apagou a tormenta.


Botinas Vermelhas

estou sentada
numa pedra
calçando botinas vermelhas
com meu companheiro Ciático.
Tive alucinações precoces durante a madrugada
y me lo imaginé
en tu poli amor
amor desgraçado
esculachado
atrapalhado
y venenoso
o sol está que racha
no bolso da camisa de veludo
tem dois reais
e um vale transporte da empresa Bosembecker
quiçá para amanhã terá chuva
que sei eu?
Estou de botinas vermelhas
sentada numa pedra pintada de branco
o sol rachando na testa
em plena constatação de outono
y na loucura cotidiana.


Sí és minha Cocanha

desci até la calle
peguei um ônibus
en el coração
uma pontinha de liberdade.
Nos cheiros
o idioma não passa de um detalhe
uma exposta subtropicalidade
espanhol – português
banho
sueños
y poemas amorosos.
El general deu o permiso
e enquanto caminhava
tentei imitar o passo da gente
pero no he conseguido hablar!
A esmo saí
à deriva do meu próprio não ser
baxei até a Sarandí
- rindo do que sou e do que deixo de ser.
Entrei em um bar vazio
onde três chicas trabalham
pomelo
y un poema
pibes drogados
e a catedral chamando
para a missa das 17:00
os trabalhadores saem de sus oficinas
y lotam os ônibus
los niños com uniformes brancos
e enormes gravatas azuis
correm pelas ruas
depois do horário escolar.
Estoy flanando
o cotidiano
estou na paisagem trágica
y soy a própria tragédia
engraxates
turistas
senhoras
estudantes da universidade
artistas da rua na rua sendo mágico
em completa sensibilidade.
O sol está baixando
indo dormir no río
y yo
fazendo o percurso amoroso
            cuerpo y pelo
sentindo real fantástico
de que sí
és minha Cocanha.