sábado, 31 de agosto de 2013

Tangueando Tédio

As cartas bailam
de um lado para outro
aqui um tédio
um tédio filha da puta
desses que te desarmam a fome.
De sonhos escuros
y bocas caindo de céus!
É um tédio passado de filha da puta.
É um re tédio
desses de sair tangueando por aí
de escorregar no primeiro banana
e sair assoviando tonterías.
Um tédio daquele tamanho!
Pornograficamente descabido
filha da puta
o tédio
a puta
a filha
a mãe
de escorregar tangueando
a primeira
- digna - 
casca de banana


Inspiradores: Sapatos em Copacabana de Vítor Ramil e Contos da Vida Difícil de Aldyr Garcia Schlee

Pacote

Na mesinha tem um pacotinho
todo colorido de purpurina
com lacinhos e fitinhas douradas
nele está escrito:
De Flor para Patrícia
do Rio Grande do Sul para Minas Gerais
O que tem dentro dele?
 _ perguntou o poetinha
Tem um monte de beijos
e pedacinhos de saudade



*Pintura As duas Irmãs de Renoir

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Não!



Não, não, não
Não quero falar
Não há quem me force
Quero ser misantropo
Virar para a parede a estante
A escrivaninha
Deixar que chova por dentro
Os lábios doces da lucidez.
Não há quem me force!
Não há quem me force mesmo
Um sintoma eu tenho
A melancólica sensação de ser.
Não quem me force
Não há
Mesmo que chova por dentro
Lábios de lucidez!

Arco-íris

Antes de sair na chuva
Vou abrir o arco-íris
E cair mansamente
[feito doida]
Dentro dele

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Uma Carta para General Flores



Por mais que tente

Não poderei explicar-te os versos.

Assim

Não poderei borrar tua imagem.

É a retomada do amor

No balcão das utopias

É uma retomada dolorosa

Diante das utopias.

Hay algo que te torna inacessível

Há o meu silêncio

O sombrio

A lágrima

A cicatriz

Hay algo que me torna distante

Perigosa

Incapaz

Y sensível

Pero

Há algo que te torna

Vazio

Repentino

Presente

Soy sóla

Y és sozinho.

Há doçura

Seguro que hay dulzura

Reflexos luminosos

Que dispersaram o tempo

A paz

A vitória

Y nuestras risas montevideanas.

Tengo ganas de trégua

De poder entregar-te a camélia

Mas há recortes brutos y perros rondando

Noite

Dia.

Na mesa da campanha

No café, o futuro, a paisagem

Os dias brilhosos da Colônia

Y teu cabelo de moça.

Não!

Não!

Ainda permaneço muda

Imóvel

E a ampulheta percorreu teu corpo

Mas eu imóvel

Calada

Tadzio apreensivo

Tadzio!

Tadzio!

Uma vez mais te miro

Minha mão na face branca:

Não mais utopias

Só o corpo verde de inúmeros tempos.




A poesia bateu à porta:
faço programa
à três
à dois
à mil
sem vinho, pecado
dor
faço programa
à dois
à cem
à mil

La Doña Roja

La doña roja
La poesia
Suspira por las calles
Los cravos vermelhos
De su tez.
Colombina transeunte
Circula de ojos úmidos
Pero felizes
Felizes
Dona de sua noite!
La roja doña de la poesia
Pousa tranquila
Num mar de maravilha.
Desloca los ventos
De pasto
Sal
Finitudes.
Despe su vestidito
Nas alamedas violetas
De la piel gris
De Florbela Espanca.



domingo, 18 de agosto de 2013

De Batom, de Sol



Já não vou mais ao espelho
Exceto para ver as rugas
Ainda imperceptíveis ao toque
Como será quando percebê-las ao deslizar o dedo?
Serão dedos caídos
                     decaídos
                        flácidos
de uma solteirona
              surda
              latina
de batom vermelho.
E supor o reflexo herdado
Cheio de rugas
Partindo pernas e braços
Velha
Gorda
Surda
Latina
De batom,
De vermelho
De sol
E de pretérito