Venho do Alasca, da escuridão, da carne e do tempo
Há pessoas sem pescoço passeando na minha rua...
É estranho esse naufragar das coisas indigestas...
E mais estranho ainda esse rosto que figura no espelho...
Criaturas insanas de cabeleiras de fogo transfiguram a angústia e a dor...
E os sapos da noite tramam a insônia constante dos dedos
Sinto uma imensa sensação de delicadeza...
E nesse carro deformado e cheio de gente, sinto olhos verdes por cima de mim
Mãos inchadas, pernas doloridas e inúteis...
A tarde se aproxima sem grandes auroras!
E as neves dessa primavera estão se desfazendo em busca do encontro das rosas de marfim com os cravos de lama...
Olhos doloridos e cores inexplicáveis aparecem nesse instante...
Porque permaneço no abismo desse sistema?
E nesse formigueiro constante que caminha na minha alma
Lembro-me do sussurro mudo da poesia que declamei no escuro
Porque sinto essa imensa saudade, Lorca?
Essa é de tempos atrás, não curto muito, mas resolvi tirá-la do baú depois que assisti um filme sobre a vida de Federico García Lorca e senti saudades do tempo em que lia todos os dias uma poesia sua.