domingo, 31 de julho de 2011

Para onde foi o Ambrósio?

Era noite alta e fria dos meses de junho, quando, no povoado do Espírito Santo do Serrito do Jaguarão, Ambrósio, de 26 anos desapareceu em busca de sua família. Era um mulato forte, de uma sensibilidade profunda. Contam os mais antigos que dentro dos olhos de Ambrósio podia se ver duas gotas pérola, deixando seu semblante mais enigmático, encantando quem chegasse perto do rapaz.
Todos desconhecem os motivos que levaram o pobre a colocar suas parcas roupas nas costas e sair, desatinado, noite de inverno a fora em busca de seus familiares que há muito havia perdido o contato. Viram-se pela última vez na cidade de Rio Grande, quando a desgraça do destino os separou quase para sempre.
Depois de alguns dias de caminhada, e enfrentando toda a sorte de ricos, chegou ao seu primeiro destino: a cidade de Candiota. Nesse lugar Ambrósio cria que estivesse sua família, entretanto o que possuía de concreto sobre isso eram as últimas palavras de sua mãe: “não se esqueça de mim meu filho, estaremos pelas bandas de Candiota”. E foram essas palavras que motivaram a fuga do jovem rapaz.
Sua trajetória poderia passar despercebida, se este jovem fosse uma pessoa comum, com o direito de ir e vir garantido, e não tivesse sido arrancado de sua terra natal e de sua família ainda menino e levado à fronteira jaguarense, para trabalhar sob o regime escravista, numa fazenda. Sobre esse jovem nada mais se sabe que a quantia que se pedia pela sua captura, os motivos que o levaram à fuga, o possível paradeiro e, especialmente, sua procura pela tão sonhada liberdade.
A liberdade almejada por Ambrósio só viria vinte anos mais tarde, com a abolição da escravidão em 1888. Devemos pensar, entretanto, que a lei Áurea livra os negros escravos dos açoites da senzala, como diz um antigo samba da Mangueira, mas os prende a um sistema que os deixou à margem da sociedade, além de enfrentar o preconceito étnico-racial.


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