quarta-feira, 9 de novembro de 2011

La Risa del Missionário


Por volta de 1890, admirando da sacada da igreja central, el missionário sentiu que la risa não lhe saía da cara.
Chamava-se Pedro e na maioria das vezes estava enjoado pelo o cheiro dos peixes que vinha do porto. Era gordo e não muito baixo, como possam pensar os leitores, tinha feições de franciscanos, com a careca lustrosa e as bochechas rosadas.
Andava, todos sabiam, enrabichado com uma negra que vivia lá, passando a Ponte Preta, e que lhe causara tantos amores, como desgostos, pois Deolina era linda, como uma flor de Onze Hora. E o que falar da boca de Deolina, dos olhos de Deolina e do andar de Deolina. Mas o que mais causava risa en el missionário – risa e amor por certo – eram as flores feitas do próprio cabelo de Deolina.
Deolina fazia o que queria com el missionário, e este se sentia prisioneiro dos seus caprichos. Nas noites das festas dos negros, el missionário Pedro, sentia que seu corpo todo amolecia e logo era “montado” por algum orixá que estivesse de plantão.
No dia destinado às comemorações pela visita do papa, Deolina se apossou del missionário, causando-lhe tanta risa que o pobre, imóvel diante da graça que achava das flores do cabelo de Deolina, ficou mirando da sacada da igreja o cortejo alvoroçado da multidão empobrecida que seguia o santo padre, sem ao menos enxergar um fio de cabelo daquele homem.
Ao missionário, nada de novo ocorreu exceto sua risa ao exagero, tão ao exagero que só desapareceu dois anos depois, quando Deolina, cansada de tanto deboche do pobre padre, resolveu cortar seus lindo cabelos.
E la risa del missionário se fue, e el pelo de Deolina se quedou, mas toda vez que mirava el pelo de Deolina guardado em seu baú de recuerdos, el missionário se atacava das risas e a história começava novamente.

Baseado em um conto do livro O dia em que o papa foi a Melo de Aldyr Garcia Schlee e nas cartas do Cônego Thomas de Aquinas que viveu em Jaguarão na primeira metade do séc. XX.

Nenhum comentário:

Postar um comentário